quinta-feira, dezembro 14, 2006

Capas do 9ª #4 - SHI: JU-NEN #1 a 4

Após longo interregno, Tucci decidiu voltar a investir na sua criação mais (re) conhecida, a heroína Shi, desta feita com apoio e edição da Dark Horse. O enquadramento da narrativa transporta-nos de volta ao Japão, onde os velhos fantasmas que continuamente assombram e se retorcem na memória de Ana Ishikawa, prendendo-a às suas origens, trazem à tona do seu consciente velhos conflitos por resolver. No entanto e, pela primeira vez, vou tomar a liberdade de compactar nesta rubrica 4 capas que formam um dos mais belos conjuntos a que já tive acesso. Foi precisamente o impacto visual destas 4 composições que despertaram imediato interesse em mim, levando-me mais tarde a adquirir esta mini-série (foi o primeiro contacto que tive com o trabalho de Tucci). Há dez anos que a personagem Shi estava afastada de novas publicações. Para os fãs foi um regresso refrescante. Ainda assim, arrisco afirmar que melhor destes volumes são as capas. Não que o argumento e a arte sejam pobres, mas por vezes tornam-se confusos, levando à dispersão do leitor. É sobre as isso (as capas) que vale a pena reflectir e procurar julgar as mesmas como um todo, indissociáveis entre si, pois a linha de raciocínio escolhida aplica-se a todas elas. Existe de forma algo notória uma combinação entre ocidente e oriente, quer a nível de representação artística quer a nível cultural, remetendo-nos para as origens de Ana Ishikawa, filha de pai japonês e mãe estado-unidense (utilizo esta terminologia, pois considero que americano ou norte-americano engloba várias nacionalidades). Os seus traços faciais denotam saudável ambiguidade cultural, o rosto branco da sua subtil personalidade geisha que utilizou no passado para servir os seus propósitos. Ao mesmo tempo, é o pó de arroz e toda uma maquilhagem nipónica que fazem de Shi o que ela realmente é, uma guerreira de raízes sohei (treinada pelo seu avô paterno) com personalidade fortemente vincada pela determinação, caminho que a conduz às suas metas, nunca lhe tirando pitada da sensualidade e erotismo que tão bem a caracterizam. Na primeira capa é bem visível a sua sensualidade, na segunda a atitude guerreira, na terceira a astúcia e determinação, e na quarta a sua objectividade. Qualquer semelhança com a arte da gravura japonesa é pura coincidência. Não me parece ter sido essa a proposta de Tucci, se bem que na primeira das composições há toda uma envolvência que nos poderá remeter para o séc. XIX (consultar o site sobre Gravuras Japonesas Modernas, exposição patente na Fundação Calouste Gulbenkian). Como referi anteriormente, Shi acaba por adoptar um pouco dessa tradição geisha, vincadamente sensual e serviçal, mas que no fundo é muito, muito mais do que isso. O cabelo escorrido sempre penteado e tratado, o cuidado com a toilette e aparência, o corpo sempre esbelto e sinuoso, a escolha com as vestes… A personificação do bem e do mal faz parte desta mulher guerreira, sendo formidavelmente exposta no papel e melhor do que nunca nestas capas. Elas são um autêntico espelho da verdadeira essência de Ana Ishikawa, conhecida entre nós como Shi.
Boas leituras!

Veja as capas com maior qualidade:
Shi: Ju-Nen #1
Shi: Ju-Nen #2
Shi: Ju-Nen #3
Shi: Ju-Nen #4



Mauro Bex : maurobindo

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