segunda-feira, janeiro 22, 2007

Leituras FDS #1 - Virgin´s Trip

Esta rubrica vai propor aos visitantes do blog uma sugestão de leitura para o fim-de-semana. Os títulos recomendados serão sempre livros já lidos por mim, para que sejam diferenciados das outras matérias divulgadas, pois nem sempre dá tempo para ler tudo. Lanço também o desafio a quem tenha um blog sobre BD, e que, porventura visite o 9ª Arte, que divulgue esta ideia/sugestão no seu espaço, contribuindo para uma maior adesão à leitura de BD. Se puderem passar a palavra fico muito grato.

Este era o mote de abertura para uma rubrica que durante meses andou esquecida. Esteve praticamente extinta, pois tinha-me esquecido completamente da sua existência. Para marcar o seu regresso, nada melhor que Banda Desenhada nacional.


É sempre gratificante terminar a leitura de um bom livro. Faz-nos querer voltar a lê-lo vezes sem conta. Virgin´s Trip pode ter essa componente aliciante a seu favor. Livro de leitura relativamente rápida (a estória divide-se em 4 pequenos capítulos), não perde, muito pelo contrário, a sua complexidade narrativa. Escrito de forma inteligente, somos transportados para uma realidade que provavelmente não estará assim tão distante (de referir para quem nunca contactou com o livro, que este está totalmente escrito em inglês, retrovertido do português). Pelo menos no que diz respeito a mentalidades o meio não foge muito à regra. Surgido da mente de uns quantos senhores (Pepedelrey, JCoelho, Rui Gamito e Rui Lacas), é uma obra que precisa ser lida com alguma atenção, pois foge ao cliché da facilidade de compreensão instantânea que caracteriza muita coisa que por aí circula. Quero com isto dizer que é daqueles livros ao qual convém despender totalmente o tempo a que nos comprometemos para a sua leitura, sem dispersões, sem televisão ligada a trautear flashadas nauseabundas, sem ficar constantemente a olhar para as horas, sem estar com pressa de ir à rua passear o cão, mesmo sabendo que durante a sua curta existência este é o nosso eterno companheiro (programem a passeata para algum momento anterior ao da leitura).

Referindo companheirismo, é disso que o título trata, abordando questões várias, levando-nos a entender e mostrando-nos que por muitas mulheres que existam, no fundo o que perdura são as amizades. Fala-nos também de virgens que não o são, mas que as há, há. Bonecas cibernéticas, naves que se pilotam como se fosse sempre a primeira vez na vida (aqui sim, o conceito de virgindade e transformação final), seres de todos os cantos da galáxia que se encontram ao fim do dia, tarde ou noite para uma boa sessão de copos (como o mais comum dos mortais já vivenciou). Os diálogos são ricos e aprazíveis de ler. A organização e disposição dos elementos artísticos é arrojada, pois cada página comporta apenas uma só prancha, criando uma experiência diferente ao leitor, deixando que cada página seja individualizável e que tenha vida própria, sem nunca ser indissociável das restantes. Se não estamos perante uma raridade, tenho de classificar o acto desta publicação, no mínimo como digno de registo para a posteridade. Virgin´s Trip quebra paradigmas de narração, de composição, de aposta num mercado, que quanto a mim parece estreitar-se cada vez mais, sem fugir ao seu ideal, ao seu corpo e alma própria e que lhe estão embutidos, conquistando um lugar de destaque nas publicações de 2006. Dou-lhe nota alta pela qualidade inerente à obra, pela sua versatilidade. Sem dúvida um dos livros de Banda Desenhada nacional do ano transacto. Bem dita 4ª Feira Laica, onde pude adquirir o meu exemplar. Parabéns à rapaziada!
Uma pequena curiosidade que se prende com o tipo de abordagem à cor e traço utilizados ao longo de Virgin´s Trip. Num livro que li recentemente, “Mort Grim” de Doug Fraser, estas duas componentes são muito semelhantes, principalmente pelos tons amarelados e escala de cinzas, que no título português são mais carregados pelo tipo de ambiente em que se passa a acção. Se por ventura tiverem possibilidade, leiam-no também. No mínimo interessante.
Boas leituras!


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Mauro Bex : maurobindo

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