quinta-feira, agosto 14, 2014

O que ando a ler em 2014 #3 - "Ms. Marvel"



Quando há uns meses a Marvel anunciou que iria ter uma série contínua focada na vida de uma muçulmana adolescente, sabia que o número #1 não me escaparia. Antes sequer do título estar nas bancas, muitas teorias foram escritas e gerou-se muita conversa em torno do que dali sairia. O que é certo é que quando o #1 saiu eu deitei-lhe logo as mãos. E gostei! Subscrição feita.


Passados seis números, Ms. Marvel ganhou força e parece-me ter vindo para ficar um bom tempo. No geral, este Ms. Marvel tem um ar adolescente, quer na forma como aborda a vida de Kamala Khan e os seus dilemas próprios da idade - amizades, escola, os grupos, o bairro, a luta pela independência e romper com as regras impostas pelos pais, entre muitas outras coisas; quer como o traço de Alphona nos faz mergulhar nessa adolescência. Este é um dos pontos altos do comic, a maneira como desenho encaixa no argumento e nos faz viajar para aquele universo.

 

A transformação de Kamala em Ms. Marvel, que demora a ser percebida pela mesma e a faz reagir com total estranheza ao sucedido, dá-se devido a uma espécie de contágio provocado por uma neblina (se não sabem do que se trata pesquisem um pouco sobre isto, pois "atravessa" vários títulos da Marvel). Até aqui tudo banal neste meio de super-heróis, mas o mundo não está ainda habituado a lidar com muçulmanos no main stream. E Kamala Khan é, sem dúvida, um marco na história da Marvel e dos comics dos Estados Unidos, a primeira super-heroína muçulmana! Já era tempo... tendo em conta que, hoje, a religião número um no mundo é o Islão.

Ms. Marvel é um comic assumidamente teenager, mas que é interessante de ser lido por quem não o é. Para além do cariz histórico que referi acima, pode fazer-nos reviver alguns momentos próprios daquela idade, como a rebeldia, e mostra ao mundo que um muçulmano é de carne e osso, igual a qualquer outra pessoa. Espero que com o tempo venham mais personagens numa linha semelhante e o os olhos do Ocidente se comecem a abrir mais para além de estereótipos que as notícias adoram vender e manipular.


Fica o meu agradecimento aos artistas, G. Willow Wilson no argumento (que continua para o arco seguinte, para meu contentamento) e Adrian Alphona na arte (que com muita pena minha, terminou a sua contribuição no #5, o fecho do primeiro arco da estória). Para mim a arte de Alphona fazia parte do quadro adolescente que estava patente no título. O seu traço é de grande fluidez com um toque street, parecendo por vezes que estamos a olhar para graffiti. Com a sua partida, a história e a personagem principal ficaram mais pobres. Nesta última tira do #6, a arte já é de Jacob Wyatt.



Boas leituras!

terça-feira, agosto 12, 2014

O que ando a ler em 2014 #2 - "Naruto"



Naruto.
Uzumaki Naruto, o maior ninja wannabe, insuportável, órfão, que se pudesse só comia ramen. Parece coisa de putos, talvez o seja, mas o personagem criado por Masashi Kishimoto é viciante! Este era outro daqueles livros que estava na estante a ganhar pó desde 2008, e um dia, POP! Como tinha só os 2 primeiros, devorei-os um bocado à pressa, e apressei-me a encomendar o terceiro. Assim que chegou, lido... depois pus um travão no Naruto, porque já vai em 70 livros e não se pode ir tão à bruta.

Não vou falar sobre a trama, os vários tipos de Manga que existem, sobre as personagens que são muitas só nos 3 primeiros números, mas sim generalizar um pouco aquilo que para mim este Manga representa. Em primeiro lugar (nota importante) nunca fui muito de ler Manga, se bem me lembro a única coisa que tinha lido até então foi o "Nightmare Before Christmas" do Tim Burton, adaptado a este estilo japonês. Portanto, em geral não percebo nada disto (Manga)!
(Vou abrir aqui um pequeno parêntesis para um elogio à personagem que mais me fascina, Kakashi. Fenomenal! O tipo anda com um olho vendado o tempo todo, é um sarcástico de primeira e a sua metodologia de ensino é qualquer coisa. Ok, agora já podemos avançar.)
Por vezes é bom ler algo "novo" mas que há muito tempo deixou de ser novidade. Sempre gostei de ler as coisas depois das modas passarem e na música faço muito isto também. É-me saudável, não consigo explicar. Por isto, Naruto foi uma descoberta quase total para mim e devorei as páginas da direita para a esquerda a bom ritmo. Adoro BD a preto e branco (característica do Manga), ajuda-nos a puxar mais pela imaginação, a criar na nossa cabeça uma paleta de cores original e a deixar muitos espaços como estão, a duas cores.
Nestes 3 primeiros volumes (daqui para a frente comprarei as compilações de 3 números em 1) o ritmo é frenético, o grupo está sempre em movimento, passa pelas mais variadas paisagens rurais e urbanos, mas com maior tendência para os grandes momentos em Natureza aberta. Segundo consta nos livros, o autor cresceu num meio mais rural e desenhava muito a Natureza envolvente e isso nota-se muito no cuidado dado ao pormenor nos cenários bucólicos.
Depois, é pancadaria com fartura, ou não fosse esta uma história de ninjas.

E é isto. Se ainda não experimentaram, ou se um dia quiserem "provar" qualquer coisa que vos é fora do habitual, ataquem o Naruto. Fica a dica.


Boas leituras!

PIC(K) OF THE WEEK #54



Joe Sacco: Palestine

O que ando a ler em 2014 #1 - "The Aviary"

Este ano tem sido extremamente difícil manter um bom ritmo de posts aqui no 9ª, prova disso é a pior contagem de publicações anual desde que o blog foi criado. Quase um contra-senso face ao exposto, é a quantidade de BD que tenho lido este ano. 2014 está a ser, provavelmente, o ano em que mais BD tenho "consumido". E uma das coisas que mais me tem agradado é a variedade dos títulos lidos. Desde o universo Marvel com as suas novidades e reinvenções de personagens, passando por Manga (coisa que para mim é quase novidade), comics da Índia, títulos off-stream/mais independentes, até à magnífica ascensão da Image enquanto editora pela qualidade do que anda a publicar, a lista não acaba e o ritmo de leitura continua alto! Não me posso queixar de todo, estou apenas insatisfeito por não poder dedicar tanto tempo a este canto bedéfilo que já completou 8 aniversários e mais de 500 posts.

Posto isto, decidi criar esta rubrica "O que ando a ler em 2014", de maneira a aglomerar títulos de uma mesma editora ou livros similares na sua abordagem/temática, para que, por vezes, possa num só post fazer mais do que uma review.



Hoje o post vai para a editora AdHouse Books com "The Aviary", de Jamie Tanner.
Tinha este livro comigo, como tantos outros, há uns anos e nunca lhe tinha pegado. Quem lê já passou por isto de certeza, compramos um livro porque queremos muito ler e depois fica esquecido anos a fio até que do nada, ele nos chama um dia da estante onde estava enterrado. Foi mais ou menos isto que me aconteceu com "The Aviary".




Para começar, o livro é bizarro! Não por ser a preto e branco, não por ser um livro desconhecido para muitos, mas pela trama em si. C.J. Organ e o seu Bird Man estão presentes em todos os capítulos do livro, são o fio condutor que, independentemente de espaço e tempo, faz com que esta estória tenha uma arquitectura muito própria, que no fim faz sentido (ou não). O traço de Tanner é muito próprio, tem aquele estilo pouco convencional, que tantas vezes caracteriza os livros independentes. Parece uma mistura de cartoon não assumido com um toque vintage e uma pitada de western aqui e ali.
Este romance gráfico está dividido em vários capítulos e isso acentua o toque bizarro de que falava. Às vezes parece que não há qualquer ligação entre capítulos, mas há sempre denominadores comuns que unem toda a trama, sejam eles detalhes, pedaços de papel ou anúncios, e claro, as personagens que por vezes parecem viver num espaço/tempo diferente.
É uma lufada de ar fresco, uma quebra com o tradicional modo de contar uma história mas que no seu todo resulta muito bem.







Só para terminar, caso tenham interesse em adquirir o livro, no site da editora esta novela gráfica está marcada como out of print, mas na amazon arranja-se (no book depository, nicles).
 
 

Boas leituras!